quinta-feira, 17 de julho de 2014

Conflito de performance: Virtual X Real

     Caros leitores, é sabido que estamos inseridos em uma sociedade tecnocientífica. É conhecido também que por estarmos inseridos nesta sociedade, sofremos impactos inescapáveis das aplicações tecnológicas. Atualmente, é raro encontrar alguém que não tenha um celular em mãos. E mais raro ainda encontrar quem não tenha acesso à internet por meio deste dispositivo, principalmente entre os jovens.
     Pois bem, é inegável a comodidade e os benefícios que tal tecnologia nos fornece. Talvez, por serem tão evidentes e atrativos, os benefícios se sobrepõem a qualquer tipo de maleficio ou de aspecto negativo presente na utilização de celulares... E é aí que mora o perigo!
     Neste post, quero tratar o conflito performático que existe entre dois territórios que são distintos, mas que coexistem: o virtual e o real. Expressamos diferentes identidades em cada território, afinal, em cada local temos o nosso senso de pertencimento. Mas e quando a sociabilidade virtual interfere na real? Isto é, e quando sua performance do mundo concreto é abalada pela virtual? Há a criação de um paradoxo, em que aquilo que aproxima e comprimi as distâncias, ao mesmo tempo cria barreiras e dificulta a criação de identidades. Afinal, só podemos criar nossas identidades a partir do outro, pois é a partir do contato com o outro que decidiremos que parte da nossa identidade manifestar, representar e etc... Mas e quando o outro está e não está ao seu lado? Como devemos nos manifestar? Como devemos expressar o nosso comportamento? Sendo assim, a nossa performance fica limitada, fica perdida. A imagem abaixo retrata reuniões com as mesmas pessoas em épocas distintas e como a sociedade tecnocientífica abalou as relações identitárias entre os indivíduos:
     Isolados em suas ilhas virtuais cada pessoa restringe a sua performance no mundo concreto. O dinamismo das identidades fica comprometido à aquilo que é exposto do mundo virtual. A flutuação identitária decorre daquilo que vemos e absorvemos das nossas """"redes sociais"""". Um exemplo de fácil constatação deste impacto da sociabilidade virtual na performance do mundo real é o humor do individuo. Isto é, frequentemente, observamos as pessoas sorridentes e alegres na companhia de seu celular. Mas o ponto é: e quando a bateria se esgota? O sorriso e a alegria também se esgotam, enquanto o desespero e a tristeza afloram e impactam diretamente nas relações com as identidades que estão, de fato, ao seu redor. A expressão do seu comportamento, ou seja, a sua performance são alteradas.
      Para não concluir, reescrevo a expressão "capitalismo e esquizofrenia" muito dita pela minha professora em sala de aula, como "virtualismo e esquizofrenia". Nem todos os zigzags identitários são absolutamente bons. Não saber dosar a alternância e o dinamismo do zigzag virtual x real implica em criação de divisas (intransponíveis). O virtual se torna esquizofrênico na medida em que pressupõe fim das distâncias, mas cria barreiras imensas..................


Em tempo:
Fonte da imagem: http://marketingnacozinha.com.br/2011/10/a-evolucao-dos-bares/

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Conflito Identitário I - Bernardo vs André

     Foi no campus de São Bernardo do Campo (SBC) que iniciei minha vida na UFABC. Lá recebi meu trote, frequentei a primeira aula, fiz os meus amigos, comi no RU pela primeira vez... enfim, tudo da minha vida universitária foi feito neste campus da UFABC (bem verdade que a minha matricula foi feita no campus de Santo André (SA), mas isso não vem ao caso...). Logo, tomando a definição de identidade como "sentido de pertencimento e de localização no tempo e no espaço e em referência a um ou vários grupos" podemos concluir que a identidade de quem vos escreve é totalmente são-bernardense!
     Sempre relutei em ir ao campus de SA, achava aquilo tudo muito cinza, com uma estrutura um pouco industrial, com algo hospitalar. Diferente de SBC, com árvores, com espaços para circulação que não um "piso vermelho", sem catracas. Minha definição para os campi era claramente: um tem vida, o outro não. E a partir disto defini, por mais que inconscientemente, que evitaria ao máximo ir ao campus sem vida.
     Aí chegou o momento que a definição precisou ser quebrada: reunião em SA que tinha que comparecer. Não queria ir de jeito nenhum, muito mais sozinho. Achava que ia acabar sendo engolido pelo vermelho daquele piso. Consegui chamar dois amigos de SBC para irem comigo lá, afim de levar vida junto comigo. Passar pela catraca já foi algo difícil, nunca gostei desse controle... No entanto, a partir do momento que girei aquela catraca, parece que tudo mudou. A "vida" que não conseguia identificar do lado de fora daquele prédio cinza estava concentrada do lado de dentro e o girar da catraca me mostrou isso.
     Pufs e atividades de circo foram o que mais me chamaram a atenção. Em cada puf sentia energias diferentes (por mais que tenha sido definido como uma ilusão, uma ilha isolado por um colega em sala de aula). Pessoas jogando cartas, jogos de tabuleiro, rindo e conversando. Ao olhar para frente me deparo com diversos tipos de malabares e monociclos (disponíveis para qualquer um). Fiquei pasmo por alguns segundos e até mesmo maravilhado com o que estava vendo. Enfim, a vida de SA foi encontrada por mim. Demorou (um ano), mas agora não só Bernardo, mas também André sorri para mim.
     No fundo, minha identidade era são-bernardense pelo fato de lá eu sempre ter o "sentido de pertencimento", por achar lá tão vivo. No momento que vi que SA também possuí vida e não apenas corpos isolados, comecei a me identificar. Primeiro conflito identitário resolvido: Bernardo e André caminham juntos, em um senso de pertencimento que encaixa confortavelmente na minha subjetividade.

Minha identidade flutuou
da dicotomia entre SA e SBC
para a união em apenas uma UFABC.